sábado, 25 de agosto de 2012

Porrada!

Quando os eletro-eletrônicos usavam válvulas, volta-e-meia surgiam problemas. Quem não lembra da velha televisão cuja imagem só ficava boa com uma sonora porrada? A explicação é bem simples, principalmente para quem já viu uma válvula.

 Válvulas eram, a grosso modo, lâmpadas. Possuíam vários pinos que encaixavam na placa onde trabalhariam. O problema era que, com o tempo, o material dilatava, os pinos ficavam sambando dentro de seus encaixes e começavam azinabrar. Com a porrada, os pinos desencaixavam, sofriam pequenos curto-circuitos e queimavam o zinabre, voltando a funcionar. Quem não lembra? O rádio saía da estação e tomava logo uma bela porrada. Pá! E pasmem! Funcionava que era uma maravilha!

 O tempo passou, vieram os transístores, os circuitos impressos e nada disso faz mais sentido. Ou não? Ou ainda tem alguém aqui que volta e meia dá uma sonora porrada no computador quando ele engasga? Bem, para ser sincero, eu faço isso. Embora digam que de nada vai adiantar, muito pelo contrário, penso que isso seja pura balela. Isso só vai danificar o pobre coitado, dizem uns. Mas, enfim, que se dane!

 Meu computador fica ao alcance de uma paulada. Aliás, mantenho um pedaço de pau ao lado do micro quando estou usando. Aqui em casa, bastou eu pegar um porrete que todos sabem que vou usar o micro. Afora os palavrões, é claro.

 Com o passar do tempo, o gabinete foi enviesando, entortando, saindo do esquadro. Parece a Torre de Pisa, resguardadas as proporções. As janelas ficam do lado de dentro, quando – depois de algumas porradas – se abrem.

 O técnico diz que não entende como é que acontece dos programas desinstalarem. Se querem saber, qualquer dia uso o porrete nele. O monitor também fica trocando as cores, mas nada que um bom soco na parte de cima não resolva. Aliás, já que cheguei a esse assunto, descobri que uma boa porrada resolve tudo. Dia desses, pela manhã, o carro não queria pegar. Abri a tampa do motor e, como não entendo patavinas daquele amontoado de ferro e fios, peguei meu porrete e desci o verbo. Depois de umas dez ou doze pauladas, o motor funcionou, sem nem mesmo eu precisar tirar a chave do bolso!

 No trabalho, a fotocopiadora parou de funcionar e sentei-lhe a porrada, mas não adiantou. Até que lembrei que não estava usando o instrumento adequado. Fui ao carro e voltei com meu porrete. Foi tiro e queda! Três boas pauladas e a máquina estava funcionando que era uma maravilha. Sinceramente, o vidro rachou, as cópias começaram a sair com um risco, mas que saíam, ah, saíam.

 O chefe disse que foi por causa da rachadura no vidro da máquina, mas eu tenho absoluta certeza de que, ao ver minha performance de um empregado multi-funcional, ele teve receio que o patrão me colocasse em seu lugar e fui demitido. Não me importei. Já tinha uma idéia em mente. Estava no elevador quando lembrei do meu porrete. Quase o ia esquecendo.

 Pendurei uma placa na porta de casa: “CONSERTA-SE TUDO!”.

 Vocês não podem imaginar a quantidade de serviços que tenho. Só de geladeiras eu consertei umas oito essa semana. E cobro bem barato: varia conforme a quantidade de porradas. Fogões, máquinas de lavar, microondas. Ah! Bem lembrado! Aviso aos usuários: nunca dê um tapa na lateral de um forno de microondas ligado. O choque faz você ficar azul e pulando igual uma perereca! Depois que pára de pular, você ainda fica uns quinze minutos falando enrolado, como se tivesse bebido. Balanças de precisão, fogões, enceradeiras, aspiradores de pó, o que trouxer eu conserto. Mas tenho a minha especialidade: Televisão! Ô equipamento prá dar defeito por falta de porrada...

 Meu micro é que, de uns tempos para cá, principalmente quando estou digitando um texto, deu para travar. Olho para ele e tenho a impressão de que está com a carinha triste, como se achasse que eu não gostasse mais dele. Nesses momentos, pego meu porrete e PÁ! E ele fica contente de novo. Enquanto escrevo, reparo que está lá, me olhando com aquela cara de cachorro sem dono. Estou dando umas porradas nele, nesse exato inst

J. Miguel
11 de  Janeiro de 2005

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